ORIGENS DO APELIDO DÉSIRAT

Este apelido é pouco conhecido e, em pesquisas na Net, apenas encontramos Desirats em França, Estados Unidos da América e Portugal.

Esta raridade despertou-me especial interesse, não só pelas origens da nossa família, mas também pelo contributo que podemos dar a quem tiver interesse por este apelido.

Tenho assim vindo últimamente a dedicar especial atenção a este ramo, intensificando as pesquisas, o que me permite já nesta altura, apresentar um quadro razoávelmente sustentado do que ao nosso país se refere, embora ainda com algumas pistas em estudo e a apresentar a breve prazo, bem como algumas certificações de correcção das linhas descendentes, ainda não totalmente garantidas, pese embora algumas contribuições recebidas.

Dado o volume de informação agora disponível, e com a finalidade de facilitar a consulta, distribui o material por tópicos numerados, com tecla de retorno no final de cada apresentação:


1. Como os Desirats chegaram a Portugal

2. Mais uma linha Désirat investigada, a baronesa de S. Cosme

3. Mais uma linha Désirat investigada, Augusto escultor

4. Descendentes dos primeiros Desirats

5. Uma lenda esclarecida, as esculturas

6. Outras lendas eslarecidas

7. Os Desirats na Net

Como os Desirats chegaram a Portugal

No referente ao nosso País, a primeira fonte que encontrámos, foi no assento de baptismo do meu avô materno José Monteiro:

Assento de baptismo na freguesia das Mercês - Lisboa - Torre do Tombo - rolo TT 2660 - registo n.º 182 a fls 67

"Aos tres dias do mes de Junho do anno de mil oito centos e oitenta e tres, nesta Parochial Egreja de Nossa Senhora das Mercês, Bairro Ocidental de Lisboa, baptizei solemnemente um individuo do sexo masculino a quem dei o nome de José, que nasceu à uma hora da manhã do dia vinte e quatro do mes de Maio último, filho legitimo de Domingos Augusto Monteiro, primeiro distribuidor, natural d' Alter do Chão, e de Maria Josephina Désiderat digo Désirat Monteiro, natural de Lisboa freguesia de Santos o Velho, recebidos e moradores nesta, na rua da Procissão numero noventa; neto paterno de José Francisco Xavier Monteiro e de Anna Chritina, natural ele d' Alter do Chão e ela de Barbacena; materno de Augusto Désirat e de Maria José Désirat, naturais ele de Bayonne, França, e esta de Lisboa, Padrinhos Manuel Miranda,solteiro, distribuidor, morador em Peniche e Cândida de Jesus Monteiro, casada, tia paterna do baptizado. E para constar lavrei em duplicado este assento que depois de lido e conferido perante os padrinhos, comigo assignou o padrinho por a madrinha não saber escrever. Era ut supra ... "

Foi este Augusto, já conhecido desde o trabalho do nosso pai, mas só agora referenciado em registo oficial, o Desirat que se pensou durante anos ter sido primeiro no nosso país e vindo de França.

Continuando as pesquisas, encontrámos o assento de baptismo de Alfredo, irmão de Maria Josephina, nossa bisavó:

Assento de baptismo a fls 13 do Livro 42 da freguesia de Santos o Velho - Torre do Tombo - rolo 1156 SGU

"Aos dezassete dias do mez de Junho do anno de mil oitocentos e cinquenta e quatro, nesta Parochial Igreja de Santos o Velho, baptisei solemnemente, e pus os Santos Oleos a Alfredo, que nasceo a vinte e quatro de Novembro do anno próximo passado, filho legítimo de Augusto Désirat, natural e baptisado em Baiona, do reino de França, e de Maria José, baptizada na Freguesia de Nossa Senhora do Monte de Caparica, recebidos nesta de Santos, onde são moradores na Calçada da Pampulha: foi padrinho António Désirat, Tio Paterno do baptisado, por procuração do seu Pay João Désirat, morador na Pampulha, Madrinha Dona Celestina Désirat tia Paterna do baptisado, e para constar, fis e assignei este assento, Dia, mez e anno ut supra .............."

que nos permitiu concluir que Augusto Desirat era filho de Jean Desirat e tinha um irmão chamado António e uma irmã de nome Celestina.

Mais pesquisas e encontrámos o assento de baptismo desse António:

Assento a fls 69 v do Livro 6 B, de baptismos da freguesia da Lapa - Torre do Tombo - rolo 1016 SGU " Aos trinta dias de Maio de mil oitocentos e dezasseis, baptizei e puz os Santos Oleos Solemnemente, a António, que nasceo em trinta de Abril passado filho de Joam Deziderat e de Marianna Plata (?) Recebidos na freguesia de Sam Pal(?), Reino de França e moradores na rua da Lapa, foi Padrinho António Manat, viuvo, morador na freguesia de ....?.... e Madrinha Bernardina Roza e em fé fiz este assento que assigno em ut supra "

Quer dizer que o primeiro Désirat nascido no nosso País (primeiro se não conseguirmos encontrar mais algum) terá sido o António, sendo os seus pais, naturais de França.

Mais pesquisas e encontrámos o assento de óbito da referida Celestina:

Livro de assentos de óbito da Freguesia da Lapa, ano de 1894, Torre do Tombo, Assento n.º 360 a fls 80 verso e 81

" Aos vinte e tres dias do mes de outubro de mil oito centos noventa e quatro, ás dez da tarde, na Estrada da Circumvalação um, desta freguesia de São Pedro em Alcantara, de Lisboa, falleceu sem sacramentos um individuo do sexo feminino, por nome Donna Maria Margarida Celestina Desirat Collomb, edade setenta tres annos, casada com João Baptista Collomb, de ocupação doméstica, natural de Bayonna, moradora na casa referida, filha legitima de João Desirat, natural de Dépau e de Marianna Luiza, também de Bayonna França, ignoram-se as profissões; não fez testamento deixou dois filhos maiores e foi sepultada em jazigo no segundo cemitério de Lisboa. Para constar, se lavrou este assento que assigno. Era ut supra ...

Foram assim encontrados o casal Jean Désirat - Marianna Luiza, bem como os seus dois filhos Augusto e António e uma filha, Maria Margarida Celestina (de que apenas o António nasceu em Lisboa), a partir dos quais temos vindo a procurar as linhas de descendência.

Como resultado das últimas pesquizas, foram encontrados muitos mais registos, que permitem uma melhor apreciação de como os Désirats se estabeleceram e multiplicaram no nosso País.

Sabemos agora, que Jean Désirat nasceu em 1792, foi reformado como criado na Casa Real, mas ainda não sabemos se faleceu aqui, ou em França.

Não sabemos em que data chegou a Lisboa, nem por que motivo para cá veio.

Sabemos apenas que em 1816 teve um filho, António, que nasceu em Lisboa.

Não sabemos por que motivo, nem quando regressou a França, onde teve a filha Maria Margarida Celestina, em 1821, filha de outra mãe, Maria Iratchipy e não de Marianna Isabel, mãe de António, embora voltasse a ter o filho Augusto, em 1823, também em França, e da primeira mãe, Marianna.

A última pesquisa feita nos registos de nascimento em Bayonne entre 1818 e 1825, não encontrou qualquer Désirat.

Não sabemos em que data e por que motivo voltou para Lisboa, embora seja possível que tenha sido nessa altura que teria entrado ao serviço da Casa Real.

Os irmãos Augusto e Celestina vieram para Lisboa em 1832-33.

O Augusto tinha como profissão marceneiro e casou em 1847, com Maria José da Conceição Teixeira, a qual nasceu em 1833, na Trafaria.
Ainda não encontámos os assentos de óbito de ambos.

Maria Margarida Celestina, casou em 1856 com João Baptista Collomb, também vindo de França, e carpinteiro de profissão.
Curiosamente, no assento de casamento, consta ser filha de Maria Iratchipy, mas no assento de óbito, figura ser filha de Marianna!

Mais uma linha Désirat investigada, a baronesa de S. Cosme

Em Julho passado, referimos uma linha a investigar, a que dizia respeito a Maria das Dores Désirat.

Após um exaustivo, mas profícuo e recomfortante trabalho, que passou por diversas conservatórias, pela Câmara Eclesiástica, vários livros e microfilmes, e um contacto directo com alguns familiares,conseguimos encontrar esta irmã da nossa bisavó Maria Josefina, e a sua descendência.

Embora esteja claro no assento de casamento, que nasceu em 1862, freguesia de Santos o Velho, por mais voltas que démos, ainda não conseguimos encontrar o assento de baptismo, talvez um dia ...!

Neste momento, já temos disponível a descendência deste ramo.

Maria das Dores casou em 1888 com António Eliseu de Macedo, de quem teve duas filhas, Berta e Alice, tendo a primeira morrido solteira pelo que a descendência segue por via da Alice.

É curioso que Alice usava o título de baronesa de S. Cosme, embora o seu pai, primogénito e herdeiro desse título tenha a ele renunciado a favor de um irmão, ainda antes do casamento.

Mais uma linha Désirat investigada

Numa das minhas pesquizas na Net, desta vez pelo apelido Desirat, encontrei esta página

Francisco Queiroz

em que é referido Augusto Desirat numa lista de Oficinas de cantaria do século XIX, uma surpresa, pois não tinha referências a canteiros neste ramo, mas sim nos Burnett.

Entrei em contacto com o autor do trabalho tive o prazer de trocar com ele as informações que agora apresento aqui, assim:

Sic

"Aqui está o que tenho ordenado sobre Augusto Desirat
Como vê, falta-me quase tudo sobre os seus pais, irmãos, etc. e até sobre a própria origem do nome.
Aguardo ansiosamente o que me puder enviar sobre essa vertente.
Cumprimentos,
Francisco Queiroz

Nota: isto já foi por mim publicado em Especificidades da arte funerária oitocentista na região da Serra de S. Mamede. Os Cemitérios de Portalegre, Castelo de Vide e Nisa (colaboração de Ana Margarida Portela). In "Programa Nacional de Bolsas de Investigação para Jovens Historiadores e Antropólogos", 4ª edição (1997/1998). Porto, Fundação da Juventude, 2000, vol.I, p. 168-253

A oficina de Augusto Desirat

Augusto Desirat era natural da paróquia de Santos-o-Velho, em Lisboa, onde nasceu por volta de 1859/60 .
Filho de Augusto Desirat e Maria José Teixeira, terá talvez aprendido a arte de canteiro numa das muitas oficinas da capital. O seu gosto, aliás, é muito influenciado pela arte funerária lisboeta.
Veio para Portalegre em 1891, instalando-se no Largo Serpa Pinto, como atesta o anúncio que fez publicar no jornal "O Districto de Portalegre" de 7 de Outubro de 1891 [fig. 122].
É claro que Augusto Desirat tinha acabado de chegar a Portalegre e necessitava dar-se a conhecer.
O anúncio mantém-se até 14 de Outubro de 1891, data em que surge um outro tipo de anúncio, que terminaria em 21 de Maio de 1892 .[fig. 123]. Este anúncio, mais extenso, já não refere que a oficina tinha aberto há pouco tempo.
Antes preocupa-se em enumerar o tipo de serviço que estava disponível e as suas vantagens em relação a eventuais concorrentes.

Porque se terá Desirat estabelecido em Portalegre? As razões concretas não as conhecemos, mas julgamos que terão sido semelhantes às que fizeram com que muitos canteiros lisboetas se tenham também estabelecido em outras regiões do país.

De facto, o negócio das cantarias de mármore aplicadas à arte funerária (e mesmo ao mobiliário), teve um grande crescendo em Portugal durante o século XIX, sobretudo em Lisboa, havendo na capital uma forte concorrência entre oficinas, muitos canteiros preferiram instalar-se em locais mais afastados, em busca de melhor negócio.

Porém, os mais prudentes só o faziam quando na região de destino existissem cemitérios cujo volume de construção de monumentos fosse já bastante grande,para que houvesse um mercado assegurado.
Augusto Desirat terá sido um destes aventureiros, vindo para Portalegre com cerca de 30 anos de idade.
Pelo que refere no seu segundo anúncio, é muito provável que Augusto Desirat tenha vindo para Portalegre porque sabia precisamente que existia um bom volume de construção de monumentos no cemitério da cidade (e outros dos arredores) e que, em geral,os portalegrenses procuravam os serviços dos canteiros da capital, já que na cidade não havia ninguém com essa especialidade.

Ao instalar-se em Portalegre, Desirat procurou desviar as encomendas de monumentos para Lisboa.
Assim, no seu anúncio refere fazer todas as obras por preços mais diminutos aos de Lisboa. De facto, percorrendo o mármore do eixo Borba-Estremoz uma distância mais curta até à sua oficina, conseguiria competir no preço da matéria prima com os canteiros de Lisboa e os monumentos poderiam também ficar mais baratos a quem os pretendia estabelecer-se em Portalegre tinha ainda outra vantagem: poderia estar mais perto dos potenciais clientes e convencê-los de que possuía a mesma técnica dos seus colegas de Lisboa e de que também sabia trabalhar como estes, dominando as modas construtivas em voga na capital, que os portalegrenses tanto aspiravam para poder ostentar nos túmulos a erigir no cemitério da cidade.

É muito curioso o facto de Augusto Desirat referir que se responsabilizava por qualquer trabalho em granito, denotando uma intenção clara em adaptar-se à cidade e região onde acabava de se estabelecer (com abundantes pedreiras de granito).
Duvidamos que este canteiro alguma vez tenha trabalhado em granito, enquanto esteve em Lisboa!
Apesar de tudo, o granito era um material considerado menos nobre para a arte funerária e, se Desirat fez alguma obra em granito enquanto esteve em Portalegre, estamos quase certos de que não fez nenhuma para cemitérios.

Em paralelo com o anúncio referenciado anteriormente, Augusto Desirat fez também publicar um anúncio onde refere que vendia um jazigo já pronto a assentar [fig. 124]. Este anúncio foi publicado entre 21 de Outubro de 1891 e 23 de Dezembro do mesmo ano.

Sabemos que Augusto Desirat foi casado com Maria José Desirat, de quem se terá divorciado posteriormente .

Eis uma assinatura de Augusto Desirat, em 1896, quando celebrou contrato com o Asilo de Nossa Senhora da Esperança, para fazer o túmulo dos seus instituidores [fig. 125].

Aquando da sua morte, provocada por hemorragia cerebral, em 10 de Janeiro de 1919, residia na Rua do Comércio, em Portalegre .
A sua mãe ainda era viva então, residindo em Lisboa. Não deixou descendentes menores, nem testamento, pelo que é difícil saber mais sobre este canteiro.
O jazigo onde Desirat está sepultado, o n.º 213, da secção F do Cemitério de Portalegre, pertence a Júlio Tomás Faria que também era canteiro e que supomos ter sido seu discípulo, até porque o terreno foi comprado precisamente aquando da morte de Desirat.

Júlio Tomás Faria (n. 17 de Janeiro de 1887 - f. 13 de Julho de 1950) terá continuado a oficina de Augusto Desirat, mas não sabemos se no mesmo local."

Por curiosidade, apresentamos algumas das suas obras, em Portalegre :

Portalegre capela do Desirat detalhe anjo

Portalegre nicho ilusionista do Desirat

Urna do Desirat asilo Castelo de Vide

Com base nas informações recebidas do Dr. Francisco Queiroz, procurei encontrar dados que faltavam, mas apenas consegui o assento de óbito:

Assento de óbito n.º 7 de 1919 na Conservatória do Registo Civil de Portalegre, refere que tinha 59 anos de idade e era divorciado de Maria José, filho de Augusto Désirat e de Maria José Teixeira, natural de Santos o Velho, em Lisboa.

que não vem adiantar nada ao que já sabíamos.

Uma nova pesquiza nos registos de baptismo da freguezia de Santos-O-Velho, confirmou o que havia dito o Dr. Francisco Queiroz, isto é, nada consta, o que não admira pois o mesmo se passou com os assentos das irmãs, Maria das Dores e Maria da Piedade, esta última em Santa Isabel.
Em todos estes três casos, há assentos que referem a freguezia do baptismo mas não os conseguimos encontrar nas mesmas.

É interessante verificar-se o facto de Augusto poder ter sido influenciado pelo seu cunhado Anatole Calmels, possívelmente até ter trabalhado com ele.
Trata-se de uma mera suposição, mas não descabida de todo.

Mais fantasista talvez, será a hipótese de contágio por vizinhança, na medida em que viviam na mesma zona, motivo aliás de possível encontro da família Desirat com a dos Burnett, e daí a ligação de que sou descendente, mas também como possível explicação de Jorge Burnett ter trocado a área da distribuição pela da cantaria.
Fantasia? é possível, mas disparate não será, e como não temos possibilidade de rever o passado, fica como mera hipótese.

Descendentes dos primeiros Desirats

Pelo que atrás vai referido, as origens francesas dos Désirats, não sofrem dúvidas e, com mais algum trabalho, podemos considerá-las seguras.

Já o mesmo se não pode dizer no respeitante às gerações seguintes, já nascidas em Lisboa, descendentes dos dois irmãos Augusto e António e da irmã Maria Margarida Celestina, e que me estão a demorar mais, apesar de algumas ajudas que me têm sido dadas por alguns dos actuais Désirats e das minhas persistentes pesquizas e que têm vindo a pouco e pouco acrescentar novos dados, comprovando a realidade que é o facto de uma árvore genealógica não é um mausoléu estático, mas sim uma fonte de vida que se não esgota no tempo, quer no passado, quer no presente e óbviamento no futuro, haja jardineiro que a continue a cuidar!

Por curiosidade, pelo menos dois ramos ficaram ligados à então nossa África, um em Angola e outro em Moçambique, sendo que, descendentes deste último, existem Desirats na África do Sul.

À medida que forem conseguidos mais elementos, mais certezas iremos estabelecer, e é nesse sentido que continuo a trabalhar, e para o que agradeço toda e qualquer ajuda.

Também não deixa de ser curioso que boa parte dos Désirats nascidos em Lisboa, terem sido baptisados na Igreja de S. Luis dos Franceses, de cujos livros de assentos, obtivémos os seus registos, onde os nomes próprios estão normalmente em francês, mas que adoptámos, como regra, incluir os mesmos na base de dados com a grafia portuguesa, p. ex. Guillaume passou a Gilherme, Stéphanie a Estefânia, etc,.

Mantemos um contacto com genealogistas franceses, o que poderá conduzir, a prazo, ao estabelecimento de uma rede mais vasta de Désirats, com uma inevitável tradução desta parte, para francês.

Já pesquisámos sem sucesso, um microfilme dos mormons, onde esperavamos encontrar os registos do Auguste, da Maria Celestina e dos pais Jean e Marianne.
Com estes novos elementos esperamos conseguir !

Uma lenda esclarecida

De entre as lendas que sobrevivem na memória de alguns dos nossos co-familiares, conseguimos esclarecer a do Arco da Rua Augusta.

Uns diziam que o Augusto tinha feito as esculturas do Arco, outros diziam que era o relogio e não as esculturas.

Pois nem uns, nem outros tinham razão, quem foi o escultor e também o autor do relógio do famoso Arco da Rua Augusta foi o escultor francês Célestin Anatole Calmels, contratado em França pela Casa Real.

Calmels nasceu em Paris em 1822 e faleceu em Lisboa em 1906.

Deixou vasta obra no nosso país, nomeadamente em Lisboa e Porto, e que se tiverem curiosidade, naveguem pelos links que a seguir vos apresento:

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Porquê então tanto ênfase neste Calmels ? É que ele teve com Maria da Piedade Désirat uma relação, da qual resultaram três filhos, o último dos quais se chamava Celestino, com descendência, o tal ramo de Moçambique.

Os fumos afinal tinham fogo, só que o Désirat aparece por colagem (à falta de melhor termo!) e não por mérito.

No que respeita a lendas relacionadas com esculturas e relógios, penso estarmos esclarecidos (até que surjam novidades).

Outras lendas esclarecidas

Refere outra lenda que o berço do Rei D. Luiz, obra prima de mobiliário em madeira, teria sido executada por Augusto Désirat.

Contactada a conservadora do Museu do Palácio Nacional da Ajuda, foi-nos dito que o referido berço não tem qualquer referência ao seu autor, nem foi encontrado até este momento, qualquer documento, tipo factura ou nota de encomenda, etc, relacionado com esta peça.

Acontece, no entanto, que numa exposição realizada no Palácio da Ajuda, em data que não conseguimos apurar, mas num intervalo inferior a vinte anos, junto a um berço em madeira, sabemos que estava um letreiro onde dizia ter sido feito por Augusto Désirat, o que justifica continuar a pesquisar.

Quanto a outra lenda que associa o nome Désirat à construção do farol de Sagres, já pesquisámos nos arquivos da Marinha e da Obras Públicas, sendo que esse farol, aliás denominado oficialmente por Farol D. Fernando, e vulgo Farol de S. Vicente, foi construído entre 1837 e 1846, ano em que foi inaugurado, e ainda não encontrámos nos documentos que consultámos, qualquer referência ao nome Désirat.

Como agora já sabemos que Jean Désirat era criado na Casa Real, António era fabricante de chocolates e Augusto pai era marceneiro, Augusto filho era canteiro, mas essa do Farol de Sagres é para esquecer!

Os Desirats na Net

Existem algumas referência na Net, que reproduzimos aqui, e que ajudam a compor a moldura deste apelido.

- - 1 - - - Uma busca no site dos Mormons deu:

1. Charles DESIRAT - Ancestral File Gender: M Birth/Christening: Abt 1623 Of Pezenas, Herault, Languedoc, France
  2. Jean DESIRAT - Ancestral File Gender: M Birth/Christening: Abt 1657 Of Pezenas, Herault, Languedoc, France
  3. Jean DESIRAT - Ancestral File Gender: M Birth/Christening: 26 May 1663 Pezenas, Herault, Languedoc, France
  4. Vital DESIRAT - Ancestral File Gender: M Birth/Christening: Dec 1660 Pezenas, Herault, Languedoc, France


- - 2 - - - É referido um tal Frei Désirat, como tendo estado presente em Lourdes, no dia 1 de Março de 1858, junto a Bernardette, numa das aparições de Nossa Senhora:
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- - 3 - - - Por exemplo, este registo de óbito, nos EUA:

Louisiana Archives 3851 Essen Lane P.O. Box 94125 Baton Rouge, LA 70804-9125 http://ftp.rootsweb.com/pub/usgenweb/la/orleans/deaths/index/1858di.txt

Desirat J. Marie 22 yrs M W 10/31/1858


- - 4 - - - Ou este,de oficiais condecorados na Polónia:

[Polish Cross-Index] [Map: Russia partion of Poland -1902 (155K)] [1882 Maps: Russian Empire (Europe)] [1882 Maps: Austro-Hungarian Empire] [Map Room] [Master IndexPage] [FEEFHS FrontPage] [Website Index] Surnames: D Polish Order of the Virtuti Militari Recipients (1792-1992) © copyright 1997 by Z Wesolowski and FEEFHS, all rights reserved Updated: 5 February 1998
... ... ...
Desirat,
... ... ...


- - 5 - - - Existem também referências a um tal Coronel Mathieu Désirat, comandante do 11º Regimento de Cavalaria, do exército de Napoleão e que veio a ser morto em combate, a 7 de Setembro de 1812, em Moscovo:
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Curiosamente, estas páginas são das mais procuradas neste site, de acordo com as estatísticas.


- - 6 - - - Na lista da tripulação do Paquete AFRIQUE, que se afundou em 11 de Maio de 1920 perto de La Rochelle, consta 10. DESIRAT Alexandre, 47a, docteur, 1492/Bordeaux, 87 rue Judaique/Bordeaux.
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- - 7 - - - Na Tabela de advogados autorizados a exercer esta profissão em Paris 1770, consta M-Desirat, Antoine-Jean-Jacques (-Toulouse) 1763 11
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- - 8 - - - Incluído num interessante artigo nomeado Une Juive en Nouvelle-France, existe uma "Liste des citoyens juifs de Jean-Jacques Rousseau (bourg St-Esprit) et de Grande Redoute", referido a 1789, em que está referido Joseph Desirat,  pâtissier-60 000 livres-veuf, 2 enfants
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Do que até agora conseguimos apurar, parece que este apelido Désirat tem ascendência (e descendência) judaica, pelo menos reportada ao início do Seculo XVII, em França, período em que as perseguições do Santo Ofício andavam bastante activas.
Uma pesquiza recente, em sites de genealogia franceses ( p.ex. http://www.geneanet.org/ ) , onde estão referenciadas 141 entradas, confirma que os mais antigos registos se reportam a 1623, e que os Désirats se encontram por toda a França, e não apenas na região de Bordéus, como pensávamos.
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Também com bastantes referências numa busca pelo Google, no nosso país, encontramos um artista músico actual, Luis Désirat, de que apresentamos uma, para exemplo:

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Actualizada em Dez 2007